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todo mundo come

O ser humano é sexo e estômago, mas como bem explicou Câmara Cascudo em A História da Alimentação Brasileira, o homem é mais estômago que sexo. Primeiro, porque ele precisa ser alimentado nas primeiras 24 horas de vida, enquanto o despertar sexual só surge na adolescência, e segundo, porque o homem precisa comer diariamente para sobreviver e pode levar uma vida celibatária sem problemas. Daí vem a pergunta: comer para viver ou viver para comer? Ou as duas coisas?

A nossa relação com a comida não é meramente nutricional: a cultura, religião geografia, história, tudo isso influencia nossa alimentação. Logo, falar sobre alimentação também é falar de história e gente, e é exatamente isso que quero discutir atravez deste blog.

O Brasil é um excelente exemplo. Os europeus usavam especiarias para conservar carnes e outros alimentos, ou disfarçar o cheiro de podre, mas quando os turcos invadiram Constantinopla e bloquearam a passagem por continente, a saída foi se aventurar no mar e contornar a África, rota descoberta por Vasco da Gama. Nesse momento entra Pedro Álvares Cabral e seus 13 navios. Alguns dizem que ele chegou nas terras daqui por acidente, outros dizem que foi intencional, pois vários navegadores já haviam avistado o Brasil e o rei Manuel I mandou Cabral tomar posse de vez. Como foi de fato, ninguém tem certeza, mas é mais interessante acreditar que, no fundo, o Brasil foi “descoberto” por causa de especiarias.

No final da história, Cabral voltou para Portugal com um punhado de pimentinha, foi chamado de fracassado e depois esquecido, assim como o Brasil ficou por um século. Botânicos dizem que o Brasil também tinha suas ervas e especiarias, que foram tão exploradas e usadas, mas não cultivadas, que foram extintas.

E é assim que o mundo gira, porque todo mundo come. Na Índia não comem carne bovina, mas comem tudo com curry. Na China, come-se tudo que tem quatro pés, menos cadeira e mesa. Por trás de cada costume, prato e ingrediente, há uma história. E esta história fica mais interessante ainda quando se sabe que grande parte dos pratos que comemos hoje surgiram de erros e improvisos.